domingo, 14 de março de 2010

Recall do Fiat Stilo está mal fundamentado

Fiquei surpreso ao ler a Nota Técnica 13/2010 do DENATRAN obrigando à FIAT a fazer um recall dos FIAT Stilo fabricados depois de 2004 para substituição dos cubos de roda traseira de ferro fundido por aço forjado.

Os textos tortos (a Nota Técnica foi escaneada inclinada e postada assim na Internet) fazem parte da argumentação técnica extraída dos laudos da UNICAMP e do CESVI


Realmente o ferro fundido nodular tem tenacidade inferior ao aço forjado, mas 3,6 vezes menor me parece exagerado. “Baixa resistência à fratura” não quer dizer nada, assim como “reconhecidamente mais frágil” e “pouca capacidade de deformação plástica”. Defendo nestes casos um confronto direto de propriedades do tipo tabela com duas colunas listando os valores de cada material. Se não, parece um raciocínio forçado onde o leitor leigo é induzido a acreditar em frases de efeito. Isto não é uma boa análise de falha.



Aqui entendo que o investigador relaciona as afirmações do item anterior para aventar a “possibilidade de fratura no momento da montagem........”
Eu pergunto: houve fratura no momento da montagem? O exame dos cubos fraturados demonstrou que havia trincas preexistentes a partir das quais ocorreu a fratura de todas as peças examinadas?


Este item e quase idêntico ao anterior:
O processo de rolamento do colar produz deformações plásticas e tensões residuais. Mas não gera necessariamente defeitos ou micro trincas. Será que havia defeitos e micro trincas justificando as fraturas? Se as tivessem encontrado teriam redigido isto de outra forma.


Agora temos que imaginar como as tolerâncias do furo e do rolamento do cubo contribuíram com a falha. Fui a ver a ABNT NBR 06158-1995 e pude constatar que esta norma visa apenas a fabricação de peças intercambiáveis. Não recomenda nada e a adoção ou não de tal ou qual conjunto de tolerância fica por conta da tecnologia do fabricante. De novo pergunto: como a pseudo discrepância de tolerâncias contribuiu com as fraturas? Encontraram algo significativo? Por que levantaram este ponto?



Quando li isto decidi fazer estes comentários. Não precisa ser especialista para ver que tem coisa errada:
Se os esforços são acima da especificação a falha pode ocorrer independentemente do material. Mais estranho é se referir a “pequenos esforços acima da especificação” qual especificação? Se esta análise serviu para provar que a causa dos acidentes foi a ruptura dos cubos de roda durante sua utilização normal, qual foi o tal do “pequeno esforço acima do especificado”?. “Ou mesmo sem qualquer esforço adicional fora da especificação”?????? Isto tudo é para dizer que os cubos romperam durante a utilização normal ou um “pouquinho” acima.
Será que o manual do usuário do FIAT STILO recomenda “não ultrapassar os esforços acima da especificação” .......mesmo sendo “pequenos”.
Não consigo acreditar que a UNICAMP tenha escrito isto em seu laudo, prefiro acreditar que alguma pessoa que não é do ramo o editou de forma irresponsável.
A UNICAMP teria escrito O CUBO ESTÁ SUB DIMENSIONADO e fim de estória.


Não conheço a CESVI, mas também da para ver que não domina análise de falha de materiais:
Os materiais não “procuram” evitar sua ruptura. Os materiais resistem a determinados esforços. Mandar substituir um material por outro pode não ser garantia de solução da falha. Ao final, qual foi a causa raiz da ruptura dos cubos dos oito carros examinados?
Foi a mesma para todos? Substituindo o ferro fundido nodular por aço forjado não vai haver mais acidentes?
Aqui o DENATRAN se superou na argumentação:
É irrelevante que a quebra da peça seja causa ou conseqüência? Se este argumento vingar toda investigação no futuro será inútil.

Não estou tratando de defender à FIAT, apenas acho errado atribuir a causa de uma falha a um determinado fator, neste caso ferro fundido nodular (cujo comportamento é muito parecido com o aço) sem provas contundentes e utilizando frases de efeito sem a quantificação necessária que uma análise de falha bem feita requer.