domingo, 24 de maio de 2009

A estação da Luz quase caiu!




A estação da Luz foi construída em Glasgow, Escócia em 1895 e montada na cidade de São Paulo em 1901 para atender a linha Santos - Jundiaí que na época ganhava importância devido à exportação de café pelo porto de Santos. Foi projetada por Henry Driver.
Esta estória é sobre um episódio em 2000 em que a estação quase caiu. Eu já tinha esquecido a promessa, feita há muito tempo neste espaço, de contá-la.
Um bom dia meu amigo Zuñiga me ligou e como sempre iniciou a conversa com a mesma pergunta: Bernasconi, o que você vai fazer amanhã? Começou a contar que havia uma questão política por trás da suspeita da degradação acelerada da bela estrutura metálica inglesa. Alguém podia ganhar prestígio e verba (ou o contrario....sei lá, algo assim). Queria conhecer minha opinião sobre o grave evento que transitava com urgência nas esferas municipais. Marcamos uma reunião para o dia seguinte, lá, na magnífica Estação da Luz. Nunca tinha entrado nela; sempre passava pela Avenida Tiradentes feito um paulistano (sem reparar nela, assim como nas outras belezas arquitetônicas que também existem nesta cidade). Estacionei a 90° junto à calçada do Parque da Luz bem em frente à entrada norte; foi como entrar no século XIX. Foi uma sensação agradável.
Zuñiga me esperava no hall central acompanhado de uma engenheira civil que conhecia os detalhes. Em quanto nos dirigíamos ao andem para ver as bases das colunas meus amigos descreviam o início do episódio: um levantamento topográfico encomendado por alguém (????) tinha encontrado uma inclinação de 3° em uma coluna. Tinham visto também que a base estava muito corroída e em conseqüência estava cedendo. A conclusão era: “a estabilidade da estrutura estava comprometida” e tinha de ser interditada imediatamente para evitar uma tragédia. Depois, obras importantes deviam ser feitas para recuperar a estrutura histórica.
Meus amigos civis já sabiam que não havia recalques no terreno nem nos pilares. Então devia ser um problema da estrutura metálica. Minha especialidade - ferros velhos. Sempre me chamam quando o foco são ferros velhos. Logo vi, as bases de quase todas as colunas tinham uma camada de carepa de 3 ou 4 milímetros. Uma pseudo proteção feita com argamassa impedia que o aço molhado pela chuva e a água da enxurrada vinda da Rua Mauá secasse. Nada de mais, era só restaurar a concepção original do projeto e..........
- Bernasconi o “pessoal” está com medo, pois os perfis metálicos perderam toda essa espessura por corrosão quem pode afirmar que estrutura vai resistir?
- Eu. Respondi e me apressei a explicar: a camada de óxido de ferro é 11 vezes maior que a camada de ferro consumido. Ou seja, cada milímetro de camada de óxido corresponde a uma redução de 0,09 mm na espessura. É só medir.
Ninguém gostou, fiquei esperando o relatório sobre a tal inclinação para pensar melhor no assunto. Pediram-me para fazer meu relatório logo.
Foi a melhor parte; tirei fotos e me diverti o dia todo com os detalhes da obra da Walter Macfarlane & Co. Saracen Foundry Glasgow.
Fiz algumas contas e desisti de esperar a medição dos 3°. Se de fato existia, este desvio devia ser de montagem. Antigo como a Luz (a estação).