sábado, 29 de agosto de 2009

Jazz - Ferros velhos - Era espacial - Fotografias sépia - Apollo 11.


O Jazz entrou em mim por duas vias. Primeiro pelos discos 78 rpm tocados na vitrola (em cima do rádio) que havia na casa de meus avos. Os discos eram de meu tio José. Ele também escutava Tango. Eu gostava mais de Jazz. Depois quando chegou a televisão em casa, lembro que as músicas dos desenhos animados eram quase todas deste gênero, com predominância de Dixieland nos mais antigos e das Big Bands nos “modernos”. Uma delicia.
Por alguma razão especial minha lembrança mais duradoura da primeira televisão em casa foi a noite do primeiro passo do Neil Armstrong na lua.

Ferros velhos e carros mal tratados (alguns antigos) foram muito presentes na minha infância. Qualquer garoto do meu bairro sabia como lixar um platinado e avançar a distribuição de um motor. Eu era mais sabido, pois tinha aprendido a ajudar meu pai a fazer pegar um Ford T. Aos quatro ou cinco anos eu sabia mexer nos bigodes do fordinho enquanto meu pai girava a manivela. Nenhum dos meus amigos tinha co-pilotado uma máquina tão antiga. Eu era um sortudo. Se um carro quebrasse na minha rua lá estava eu absorvendo todo o conhecimento e a fumaça esparramada no ambiente.

Corria a década de 60 e julgando ter “vasta experiência” em assuntos tecnológicos, decidimos entrar na Era espacial embalados pelas estórias de Laika e Gagarin construímos alguns foguetes propelidos a querosene e como não dispúnhamos de hidrogênio empurrávamos ar com uma bomba de encher pneu de bicicleta nos tanques feitos de lata. Depois de alguns incêndios e as conseqüentes reprimendas sem ter alcançado orbitas superiores a três metros, abandonamos o programa por absoluta falta de capital para desenvolvimento e nenhum apoio da vizinhança. A estação de lançamento ora era no quintal de algum membro da equipe, ora era num terreno baldio. Nunca conseguimos fazer mais de um lançamento por local. Em fim, não tínhamos a disposição um Cabo Cañaveral. Finalmente, convencidos de ter feito avanços importantes, apesar de tudo, e em um ato de altruísmo cientifico enviamos todos os documentos de nosso projeto à NASA. Para ajudar os americanos contra os Russos. Fizemos uma vaquinha para comprar os selos (eram necessários muitos para enviar uma correspondência a USA naquela época) botamos tudo num envelope pardo e mandamos via aérea.

Fotografias históricas são para mim como relíquias. Fascinam-me as fotografias em branco e preto, mas se são sépia logo penso que a importância do objeto fotografado devia ser maior. Creio que adotei este conceito quando aprendi a revelar negativos e cópias B&P ou sépia. Gosto menos das fotografias coloridas. Durante minha infância olhava para as máquinas fotográficas como o moleque com o nariz no vidro. Eram objetos mágicos. Lembro do tio Oscar que era aficionado e tinha muitas câmeras. Um luxo.O destino me deparou uma surpresa quando fui a trabalhar ao Laboratório de Engenharia de Produto da Chrysler Fevre Argentina. Hugo Eckerdt que já me havia apresentado a metalografia na Eaton Metalúrgica e que gostava mais que eu de ferros me recepcionou de uma maneira fantástica: ele não queria mais cuidar do laboratório de fotografia e me ensinou tudo. Era o início dos 70 e nesse laboratório tinha uma mala com várias câmeras e acessórios Hasselblad como as que tinham deixado na lua os astronautas da Apollo 11 alguns anos antes, depois de tirar as fotografias históricas da primeira Moon landing (não tenho coragem de escrever isto em português). Havia também um ampliador Durst. Em fim, dispunha de um equipamento de primeira qualidade e tecnologia avançada para fotografar ferros quebrados. Uma glória.